14 de janeiro de 2011

O que temos na morte e não temos na vida

O dia do cortejo fúnebre é sem duvida a melhor desculpa para reunir a família, os amigos e os inimigos, os conhecidos e até alguns desconhecidos. 

Tudo chora, todos acompanham e muitos apoiam. Apoiam??? - Apoiar um defunto??? Muitas destas pessoas em vida nunca o apoiaram e agora chegam-se à frente para o apoiar??? Acreditem que agora também não o apoiam.

Quem agora apoia o defunto é um conjunto de tábuas de madeira.

Tábuas cortadas à medida.
Tábuas revestidas com verniz.
Tábuas revestidas com folhos brancos de forma a proporcionar algum conforto.
Tábuas que amparam um corpo e que não o deixam tombar.
Tábuas com um papel muito superior na altura da morte do que muitas pessoas tiveram na vida e que mesmo assim não abdicaram de estar presentes.

Nestas alturas ninguém aponta defeitos. Só se ouvem qualidades. 

Durante este curto espaço de tempo é relembrada uma vida cheia de sucessos e de qualidades descritas por cada um e completando-se numa história de uma vida.

Muitos levam flores. Arranjos de flores, coroas de flores, flores em numero muito superior a que o defunto recebeu em toda a sua vida e com que significado? Significado de alegrar o momento? Alegrar aquele dia? Porque não dividiram essas flores, pelos dias de vida daquele que agora nada vê?

Está na altura de perceber que não é preciso chegar ao fim da vida para ter todo um conforto que falta nesta curta vida. 
É altura de nos concentrarmos no dia-a-dia. 
É hora de ter um simples gesto que proporcione algum conforto.
É altura de deixar de ser egoísta e de ser sínico. 
É altura de aproveitar os minutos da nossa vida com quem mais gostamos e simplesmente abdicar de tudo o que nos faz mal.

É altura de adoptar um papel semelhante ao que mais tarde uma tábua irá ter.

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