Estudo da Universidade de Yale
25.11.2007 - 13h28 Romana Borja-Santos
Pode parecer coisa de um pai orgulhoso que a cada momento aponta novas qualidades e capacidades ao seu filho, mas talvez não seja. Um novo estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, veio mostrar que provavelmente, mesmo antes de andarem e de falarem, os bebés são sensíveis ao carácter das pessoas e, assim, capazes de distinguir um amigo de um inimigo.Os resultados da investigação, em bebés entre os seis e os dez meses, publicados esta semana na revista “Nature”, mostram que os bebés têm mais noções sociais do que se poderia pensar e que rapidamente aprendem o provérbio “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. O trabalho, conduzido por Kiley Hamlin, da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut, nos Estados Unidos, conclui que as crianças com menos de um ano já são capazes de julgar as acções daqueles que as rodeiam, mesmo quando são meros espectadores de coisas que não os afectam directamente.
No entanto, o pedopsiquiatra Eduardo Banito disse ao PUBLICO.PT que as idades em questão são ainda muito precoces para este tipo de estudos, já que “a leitura de sinais exteriores é muito limitada”. O especialista defende que até um ano de idade a criança funciona mais por mímica, isto é, por imitação do meio ambiente. “Esta ideia de que o ser humano é naturalmente bom é muito do século XVII”, acrescentou. O pedopsiquiatra defende que, mais do que a genética ou do que aquilo a que o estudo chama “inato”, o mais importante é haver “padrões de equilíbrio emocional, não sujeitando o bebé a muitas alterações que podem ser entendidas como agressão”.

Para chegar a estas conclusões, a equipa norte-americana utilizou algo tão simples como uma história contada com bonecos que subiam e desciam uma montanha. Estes tinham uns olhos grandes, parecidos com os pirilampos mágicos, de forma a dar-lhes uma forma mais apelativa, mas também mais humana.
A personagem principal da história, um círculo colorido de madeira brilhante e com grandes olhos, tenta subir uma montanha mas não consegue. Numa primeira fase conta com a ajuda de um triângulo “bom samaritano” que o ajuda a escalar, mas noutra encontra um inimigo, um quadrado, que lhe dificulta o caminho e o empurra para baixo.
No final da exibição foi pedido aos bebés que escolhessem um dos bonecos e quase todos optaram pelo de bom carácter – os 12 bebés de seis meses escolheram o triângulo assim como 14 dos 16 bebés de dez meses.
A experiência foi repetida com os mesmos objectos a descer a montanha para se certificarem que o sentido em que se movimentavam não influenciava a escolha e também com os bonecos sem olhos, verificando-se neste caso que os bebés não reagiam tanto à história.
Foi ainda introduzida no conto uma figura neutral. Apesar de os bebés a preferirem relativamente à má, continuaram a optar pela boa em vez da neutra. A equipa de Hamlin diz que tudo isto prova que, com menos de um ano, as crianças já distinguem uma acção humana, mesmo quando não estão nela envolvidas.
Numa segunda experiência, a personagem torna-se amiga tanto do bom como do mau boneco. Os especialistas aperceberam-se que os bebés mais crescidos ficaram mais atentos às cenas e mais surpreendidos, o que mostra que são capazes de tirar conclusões complexas das atitudes sociais e motivações que os envolvem.
“O facto de os bebés serem capazes de fazer escolhas em idades tão precoces sugere que a sua habilidade de escolher entre o bom e o mau pode ser inata”, disse Kiley Hamlin à “Nature”, em vez de apenas socialmente aprendida com os pais. O investigador acrescentou, no entanto, que “passando mais tempo com pessoas positivas do que com negativas as crianças vão aprender melhores 'inputs', que com o tempo vão influenciar o seu desenvolvimento” – uma adaptação biológica às condições sociais.
Idades demasiado precoces
O pedopsiquiatra Eduardo Banito está mais de acordo com esta ideia de assimilação social, pelo que a criança tanto se pode identificar com causas positivas como negativas, segundo as vivências que lhe são proporcionadas. “A amostra utilizada é muito pequena o que torna a certeza do comportamento ser inato muito duvidosa”, afirmou o especialista em comportamento infantil. Banito explicou também que “há uma tendência católica em dividir o mundo em bom e mau e nestas idades não podemos encaixar as coisas desta forma, nem podemos dizer que o boneco que não ajuda é necessariamente mau”.
O pedopsiquiatra sublinha ainda que é a partir dos dois anos que se conseguem identificar melhor os comportamentos infantis e dizer se são ou não desviantes, o que pode ser avaliado, por exemplo, vendo se a criança é capaz de construir frases concordantes e lógicas ou se tem um bloqueio verbal, revelador muitas vezes de “patologias do foro psiquiátrico mais complicadas”.
25.11.2007, Público.pt
4 comentários:
Realmente, agora percebo algumas reacções que os pequenos tem comigo.
Reacções tão diferentes das dos adultos.
;)
Pois...
Não dizes é se são reacções positivas ou negativas, as que os pequenos têm contigo claro!
Bjs
Acho que é ver para crer....
Mas acho que são bastante positivas ao ponto de eu ficar surpreendido.
Obg
Ainda bem que há quem ainda te consiga surpreender, mesmo sendo bebés!
Bjs
Enviar um comentário